Quando eu era criança, eu queria ser mãe de gêmeos univitelinos. Eu admirava o semblante igual, a telepatia que existia entre os irmãos e a forma como a mãe as vestiam de roupa igual, mudando só a cor (uma de rosa e a outra de amarelo). Mary Kate & Ashley na Tv eram minha referência maior de vida e inspiração para o quanto eu gostaria de ter/construir aquela conexão com alguém.
Os anos foram passando e a minha lua em aquário foi ficando cada vez mais presente. Uma grande revolta de como a sociedade é disposta foi tomando conta de mim e a bolha que eu vivia não se sustentava mais. Meu ascendente em peixes sentia tudo e foi em uma mesa de natal da minha família materna metida a tradicional que eu escolhi com lágrimas nos olhos homenagear o brinde as crianças da África que não tinham comida. Ali foi a primeira violência consciente que sofri. Fui zombada, reprimida e até pedida a se retirar da mesa, um horror. Naquela época eu ainda não entendia o poder do capitalismo e o porque eu tinha privilégios e as crianças da África não. Porque a gente comia lula à dorê e as crianças da África passavam fome. Naquele momento, chorando no meu quarto pós repressão familiar que eu escolhi que futuramente eu gostaria de adotar uma criança. Acho que o poder materno traz isso, proteção e eu queria naquele momento poder proteger pelo menos uma alma desse mundo adâmico.
Comecei então, aos 13 anos, a contar pra todo mundo e afirmar que seria mãe de dois, um/a adotado/a e um gerado pois gostaria de sentir a “dádiva” da gestação.
Os anos foram passando, a vida foi acontecendo e eu senti na pele pela primeira vez o luto parental. Perdi meu pai precocemente e surtei. Minha mãe tava ali (graças a Deus), cuidando e rebolando pra atender o luto de 3 adolescentes. Foram tempos sombrios em que me perdi tentando encontrar sentido pra toda essa experiência. Muita sombra, uma grande queda aconteceu. Fiquei revoltada com Deus e briguei com a maternidade. Se a única certeza é de que vamos morrer, pra que nascer então? E ali decretei que não queria ser mãe de jeito nenhum. Não sabia cuidar de mim, como cuidar de outro ser? já bastava meus problemas.
O tempo passou mais, eu me afundei mais na sombra e aos 23 anos me vi grávida de um “one night stand” sem importância e que mal lembrava como tinha acontecido. Me peguei desesperada e confiei em poucas pessoas para contar o que tava acontecendo comigo e a que mais me acolheu foi a minha mãe. Eu não tava preparada para viver a maternidade. Uma culpa muito grande tomou conta do meu ser, pois ao mesmo tempo que o milagre da cocriação acontecia dentro de mim, tudo aquele desejo da infância e adolescência não cabia naquele momento da minha vida.
Antes de decidir alguma coisa, me vi conversando com a minha barriga (invisível) olhando para o espelho e pedindo perdão pela escolha que iria fazer naquele momento. É que eu precisava ver o mundo (vontade gerada através das histórias da minha avó Eliza que deu a volta nele) e se eu me tornasse mãe naquele momento, aquele sonho não poderia se realizar. Eu, com todo meu privilégio, consegui ajuda de um médico que me apoiou e realizou o procedimento dentro de um hospital; não corri risco de vida, porém ali morri metaforicamente. Morreu-se a parte da Maíra criança que entendia a maternidade como soma daquilo que ela não encontrava dentro dela e morreu-se a parte da Maíra adolescente que queria mudar o mundo através da maternidade também. Foi um grande impacto viver tudo isso, mas como prometido ao embrião em frente ao espelho, resolvi então conhecer o mundo, pois aquele ato tão “anti-cristo” não poderia me gerar uma passagem só de ida sem escalas para o inferno. Acho que o que passou pela minha mente naquele momento foi: “quem sabe se Deus olhar a minha jornada e ver que eu cumpri minha promessa ao embrião, ele talvez amenize o peso do meu “erro” e me de uma chance.”
Pois muito que bem, vendi tudo, me demiti do meu trabalho, entreguei meu apartamento e fechei minhas contas em bancos brasileiros. Tudo que eu tinha naquele momento eram duas malas e uma promessa a minha mãe de que eu iria morar na Europa para tirar meu passaporte italiano (Grazie nona Izaura ♥️) e fazer eventualmente um mestrado. Assim começou a minha jornada em Berlim. Foram 9 anos para voltar ao ponto de partida. Nesse meio tempo fiz as pazes com Deus e me abri a espiritualidade. Constelei meu aborto e dei um nome a esse embrião, Ísis e assim o fiz meu primogênito. Entendi que Ísis cumpriu sua jornada e eu estava no caminho de cumprir a minha. Durante 9 anos, que são compatíveis a 9 meses de gestação (se você ignorar a escala de tempo já que tempo é uma ilusão), gestei uma Maíra que estava completamente fragmentada, perdida. Conforme os anos foram passando, os cacos foram sendo recolhidos e unidos, fui me reconhecendo e me reconectando com o Eu, que em algum momento do que parecia uma vida passada, perdi.
Durante meu retorno de Saturno e o ápice da minha inquietação da busca sobre meu ser e o que eu estava fazendo aqui, senti de resgatar a pequena Maíra que queria ser mãe de univitelinos. A Maritaca artista que observava, sentia e expunha com verdade e autenticidade seu universo interior e foi através dessa Maíra luminosa que fui capaz de trazer a luz de novo para minha vida. Foi através dela que eu me reconectei com a Maíra revolucionária e foi também através dela que resgatei o sonho da maternidade.
Sonho esse que me assusta pois a Maíra que prometeu a Ísis liberdade para ver o mundo ainda habita dentro de mim. A Maíra de hoje resgata o sonho da Maíra rebelde dos 13 anos e pensa sim em adotar uma criança e gerar outra; aliás acho que nesse momento essa é uma grande meta de vida. Vejo o gestar como uma oportunidade de me conectar profundamente com o meu ser, abrir portais, e me permitir ainda mais a sentir; encarar de frente a luz e sombra que vive dentro de mim e mais uma vez renascer.
A maternidade é um tópico tão grande na minha vida, mas que eu só parei pra reparar a dimensão enquanto escrevia essa estória.
Minha mãe, apesar de rígida muitas vezes (asc em Virgem e Lua em Capricórnio), foi a pessoa que mais me apoiou e me deu suporte ao longo da vida. Por mais difícil que tenha sido, ela me deixou ir pro mundo. Ela entendeu minha necessidade, me acolheu soltando e assim segui buscando minhas respostas. Sou tão grata a ela. Quero poder ser essa ponte de apoio e de amor incondicional a um ser também assim como ela foi pra mim.
Hoje sou mãe de pet e vejo isso como a pré maternidade. Clichê, eu sei! porém foi o que eu dei conta de realizar e manifestar nesse momento. A todas as mães e em especial as que são “pães” (pai e mãe ao mesmo tempo), meu grande respeito e admiração por vocês. Acredito que ser mãe é o ato mais altruísta e escorpiano que existe, pois você se permite morrer por completo para que então você renasça uma leoa que vai cuidar e proteger a todo custo da sua cria.
Viva as mães hoje e todos os dias. Espero poder quem sabe um dia ser mãe também, não só do Bartholomeu.